Anorexia também é coisa de menino...


Rob Meijering tinha 13 anos e pesava 33 quilos quando chegou ao médico. Vinte quilos abaixo do peso normal. Só anos mais tarde foi diagnosticado como anoréxico. “Isso é uma doença de meninas e não acontece com meninos”, ouviu Meijering. Ele agora criou um site para meninos com anorexia nervosa.
Com o site www.anorexiajongens.nl (em holandês) ele quer evitar que meninos com a doença passem pelo mesmo calvário que ele teve que passar na época. Meijering, hoje com 41 anos, descobriu que ainda é dada muito pouca atenção à anorexia em meninos. Por isso quis criar um espaço próprio para o tema.
“Para ter um ponto na internet onde meninos possam buscar informação, para que possam se encontrar num fórum e trocar experiências uns com os outros. Isso simplesmente não existia. Para meninas, sim. Em muitos sites pode-se encontrar informação sobre anorexia que têm uma citação muito curta de que meninos também podem ter a doença. Achei importante criar um lugar onde toda a informação é dirigida aos meninos.”

Anorexia nervosa não é uma doença ocidental

Por muito tempo assumia-se que a anorexia nervosa era uma doença que ocorria apenas em culturas industrializadas, particularmente as ocidentais. Oito em cada 100 mil meninas com idade entre 15 e 24 anos sofrem com ela. Elas buscam o ideal ocidental de magreza.
Estudos recentes comprovam que a anorexia não é exclusividade de países ocidentais desenvolvidos. Este transtorno alimentar também existe em culturas tradicionais e atinge populações brancas, negras e asiáticas, provavelmente na mesma proporção. A motivação dos pacientes para não comer nem sempre é a mesma. Em culturas mais tradicionais, problemas digestivos são muitas vezes apontados como motivo.
Meninos representam 10% de todos os casos de anorexia. Cerca de 6% a 10% dos pacientes morre em consequência da doença, que é uma das mais fatais doenças psíquicas.


Reconhecimento
Mas o site também é para pais e agentes de saúde. Meijering espera que eles também vejam que meninos podem ter um transtorno alimentar, e que os pais possam ser mais incisivos junto aos médicos depois de ter obtido estas informações pela internet.
“Os meninos representam 10% das pessoas com transtorno alimentar. Portanto, não é um problema só das meninas. Espero que os médicos comecem a perceber que têm que olhar mais a fundo e levar isso a sério, sem dizer de cara: isso não acontece.”
Para Meijering, o reconhecimento pelos clínicos gerais é particularmente importante. Eles são os ‘guardiães da assistência médica’ e se não reconhecem a doença é preciso grande esforço e muitos desvios para chegar ao tratamento. Em seu caso, este reconhecimento demorou três anos. Se tivesse recebido assitência médica antes, não teria levado treze anos para que voltasse a comer normalmente.
Pressão
O ex-paciente afinal foi levado a um hospital e recebeu alimento por sonda durante 18 semanas. Uma vez recuperado o peso, recebeu alta. O tratamento era dirigido ao aumento de peso. A cada quilo que recuperava, recebia um presente: um livro, uma caneta, ou podia fechar as cortinas. Ele conseguia comer, mas com muita dificuldade. Mas uma vez em casa, Meijering voltou a emagrecer.
O ponto de virada ocorreu quando Meijering, aos 18 anos, conseguiu seu primeiro emprego numa padaria. Ele descobriu que era bom em outras coisas. Até então, via o emagrecimento como sua grande força.
“Você fica confuso, inseguro. Eu era intimidado na escola e aí surge algo em que é muito bom, no caso, emagrecer, e você se agarra a isso. Dá tanta segurança, mesmo que seja muito ruim pra você. Isso se torna a sua fuga. Traz muita segurança, ainda que você mesmo sofra com isso.”
Foco na comida
Por fim, Meijering conseguiu superar a doença por conta própria. Não obstante todas as terapias que recebeu em seu período como paciente de anorexia. O problema era que o foco era sempre na comida. “Acho que não é por aí. É preciso resolver os problemas subjacentes. A comida é importante, claro. Se alguém está em situação de risco, é preciso intervir, mas o tratamento não deve ser sobre isso.”
Por sorte, seu site está recebendo muita atenção. Até mesmo instituições de assistência médica, que a princípio não foram entusiastas sobre a iniciativa, agora o procuram. Meijering considera isso um primeiro passo para a melhoria no atendimento aos pacientes.

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